A garota que tudo sabia

Ela não sabia amar. Ela sabia cachear seus cabelos, sabia digitar com os 10 dedos, sabia falar alemão e espanhol, mas amar ela não sabia.

Fazia contas difíceis de cabeça, listas de compras pela memória e sabia até escrever haikus. Mas o amor, ela desconhecia.

Os nomes dos últimos presidentes, as capitais dos estados, os álbuns dos Beatles, os nomes dos esmaltes, o endereço do dentista, a seleção brasileira de 72. Sobre tudo ela sabia, menos sobre o amor.


Ela cozinhava macarrão, corria maratonas, combinava os sapatos com qualquer ocasião, configurava computadores e operava qualquer máquina doméstica. Mas amar, não dava não.


Ela dirigia muito bem, aprendeu a trocar pneu, contar o consumo do carro, a diferença entre 1.0 e 1.8, entre 8 e 16V. Mas a amar, ela nunca aprendeu.

Ela se formou em engenharia, adorava uma churrascaria. Ela viajou por diversos lugares, conheceu diversas pessoas, leu mais de cem livros. Mas o amor, ela nunca descobriu.

Ela era divertida, muito bem arrumada. Ela era inteligente, uma ótima dona de casa, uma profissional de sucesso. Mas o amor, ela nunca praticou.

Ela tinha olhos verdes, cuidava dos cabelos, comia mel todas as manhãs, hidratava a pele, usava cremes anti-rugas e tomava vitaminas. Mas o amor, ela não sabia dosar.

Ela sabia seduzir, sabia conquistar. Sabia usar seu corpo, seu olhar, suas palavras. Sabia cruzar as pernas, dar um sorrido lateral. Mas amar, ela nunca sabia como fazer.

Ela sabia medir temperatura, sabia o número da emergência, sabia usar o moderno telefone, sabia quem inventou a penicilina. Mas quem inventou o amor, nada a ela ensinou.

Ela sabia pintar as unhas. Ela sabia contar histórias. Ela sabia fazer crochê e bordar toalhas. Ela sabia tocar piano e sabia as cores das bandeiras da Suécia e da Finlândia. Ela sabia escolher frutas. Ela sabia investir na bolsa, calcular juros, sabia explicar a inflação e entendia a economia mundial. Mas o amor ela não calculava, desenhava, descrevia. O amor ela realmente não sabia.