Outro dia, ele viu o sol nascer. Não soube ao certo dizer a cor, se era laranja, abóbora ou dourado renascentista, mas ele o viu. Ali, os pés descalços, unhas mal cortadas e o verde da montanha que ele pintou em sua mente era bem verde, já que o cinza pairava naquele horizonte para o qual olhava diariamente. E a montanha estava ali, bem perto do sol nascente. Ele até tentou, em um esforço quase que inexistente, movê-la dali. Mas se o esforço não foi tão grande, como poderia ele alcançar resultado tão expressivo?O olhar era aquele de sempre. Olhos pequenos, fechados, de um marrom-folha-de-outono. Ele não sabia porque estava ali, mas estava. Decidiu abrir a garrafa de água e reparar nas suas unhas. Ou melhor, nas unhas dela. Ao passar o café, segurava uma chaleira grande. As unhas eram vermelhas, querendo descascar. O vermelho era intenso, ele achou bonito. Mesmo descascando. Ele lembrou do que realmente queria, que não tinha cor vermelha, mas era igualmente bonito.
Aquela brisa gelada batia em seus cabelos, que já davam sinal do tempo. Seu rosto ficou rosado, do frio. As mãos tinham aparência cansada, gritavam que aquele homem ali tinha uma história.
Nesse dia ele se perguntou como. E também se perguntou por quê. Mais um pouco, e ele começou a perguntar onde, quando, quem... E ele sabia todas as respostas, mas naquele instante ele precisava fazer as perguntas. E quis renová-las, como uma ofegante e exaustiva tentativa de mudar aquilo que não gostava, que não lhe fazia sentido. Ele sentou, pensou e achou que aquilo estava bom. Aquilo, assim, daquele jeito mesmo. Nem pensou mais de uma vez. Parecia ser mais fácil assim.
No dia do sol, a lua também veio. Mas dessa, ele fugiu. Se a lua quiser questionar ou vetar sua ida àquela esquina, aquela do final do túnel que apenas ele tem o dom de enxergar, ela pode. Porque ele deu a ela esse poder.E ficou, assim, com medo.
No meio do mato. Dentro da água, perdido em ventanias. Para lá ele fugiu, aquela cabana quente e gostosa. Era apenas uma cabana, bem simples e sem grandes pretensões. Mas aquela cabana tinha cheiro de patchouli, textura de pau-brasil. Naquela cabana ele entrou, sem medo, desafiando, negando mas aceitando o que viria dali prá frente. Era assim em seus pensamentos.
No mais, ele tinha plena certeza que poderia não dar certo. Mas ele não se importava muito com isso. Naquele momento ele era ele e buscava a outra folha, ou melhor, aquele olhar. Uma mais esverdeada, que brilharia em sua vida no próximo sol nascente que conseguisse enxergar. E por onde vai, anda, permanece, agora, esse olhar de folha? Onde, por onde, estará?
Um comentário:
Uau!!! Impressionante. =)
Fico tão feliz quando vejo talento nas pessoas. Me dá uma sensação de esperança e orgulho, uma vontade de acreditar que sim, é possível!
Parabéns Mari, ficou incrível.
Bjs! =)
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