domingo, 1 de setembro de 2013

O limite do tempo

Mari D'Amore
Se aquele dia tivesse mais algumas horas, eles poderiam fazer muito mais.
Poderiam se beijar mais.
Poderiam dar abraços mais longos.
Poderiam se olhar mais e reparar mais detalhadamente na cor dos olhos um do outro.

Poderiam fazer mais panquecas ou tomar mais algumas cervejas.
Poderiam tirar as roupas, e colocá-las novamente. E tirá-las mais uma vez.
Poderiam contar piadas, tirar sarro um do outro.
Poderiam rir mais, até chorar em algum momento.

Poderiam falar mais sobre o filme que assistiram. Podiam assistir mais um.
Poderiam cochilar um pouco mais no peito um do outro.
Poderiam detalhar melhor o que tinham a fazer no dia seguinte.
Poderiam lembrar de mais algumas coisas importantes que precisavam contar.

Poderiam fazer listas. De músicas ou livros favoritos. De lugares a visitar. De famosos mais bonitos. De filmes com Jack Nicholson.
Poderiam brigar por mais algumas opiniões diferentes. Poderiam discordar mais algumas vezes. Poderiam somar mais algumas pequenas mágoas.
Poderiam fazer mais alguns planos, poderiam mudar mais algumas vezes de ideia.
Poderiam também fazer algumas surpresas um para o outro, contar mais alguns segredos.

Poderiam cantar mais algumas músicas, fazer um pouco mais de bagunça.
Poderiam fumar mais alguns cigarros, comer mais alguns brigadeiros.
Poderiam reclamar mais um pouco da vida, falar mal de mais algumas pessoas.
Poderiam discutir mais assuntos cotidianos. Poderiam até falar de política, futebol ou a situação na Síria.

Poderiam organizar livros, acender velas.
Poderiam passar hidratante nas pernas. Ou melhor, ela passar e ele assistir.
Poderiam comentar sobre o cheiro da pele um do outro.
Poderiam falar sobre a cor das unhas dos pés dela. Ou sobre a maciez do seu cabelo.

Poderiam falar sobre como aquela camisa verde ilumina os olhos dele ou como ele fica lindo vestindo um blazer.
Poderiam tomar decisões. Poderiam fazer do dia uma amenidade.
Poderiam matar as saudades um do outro. Poderiam criar mais motivos para sentir saudade.
Poderiam fazer barulho. Poderiam pedir silêncio.

Poderiam se declarar, poderiam se animar, poderiam se consolar.
Poderiam ler mais sorrisos e olhares.
Poderiam ser mais felizes, poderiam até destruir tudo.
Mais algumas horas poderiam ter feito toda a diferença. Se eles tivessem tido esse privilégio.


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