sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Alguém

Mari D'Amore

A chamavam de calma.

Diziam que ela era o exemplo de paciência.

Falavam que ela era tranquila e zen.

Costumavam perguntar a ela se meditava. Se praticava ioga. Se seguia alguma religião. Se tomava chás e até se usava algum medicamento.

Diziam que ela era doce. Falavam de liderança, de segurança, de maturidade, de força.

Mas não diziam a ela que tudo ficaria bem.

Não estendiam a mão.

Não davam o ombro, não enxugavam a lágrima.

Não sabiam dos sapos que engolia diariamente.

Não se davam conta das mãos trêmulas que ela tinha em certos momentos.

Não sentiam a dor que ela sentia no estômago. E nem na cabeça. E nem nas costas. E nem na alma.

Não notavam seu isolamento. Não ofereciam um abraço.

Não usavam palavras motivadoras.

Não ofereciam carinhos gratuitos.

Não notavam seus batimentos a 150, sua pressão a 14/10.

Não sabiam que ela chorava no banheiro. Não sabiam das madrugadas com brigadeiro.

Não prestavam atenção nos detalhes. Na falta de maquiagem. Nos olhos cansados.

Ela engolia os problemas, guardava as mágoas, segurava a onda. Do jeito que dava.

Mas ia acumulando em si uma série de contradições, mentiras, cansaços, desilusões, descrenças, insatisfações, medos, indignações, frustrações, dúvidas...


No final, ela era assim... como dizer, como explicar, como definir? Ela era assim, uma pessoa... normal. 

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