quarta-feira, 31 de julho de 2013

Por inteiro

Emogin

Ela não sabia ser metade.
Não sabia ser meia-amiga, meio-indiferente, meio-termo, meia-noite ou meio-dia.
Ela não sabia amar pela metade, confiar pela metade, respeitar pela metade.
Ela não sabia trabalhar meio-período ou cabular meio expediente.
Ela não comia pizza meio a meio, muito menos meio brigadeiro.
Ela não se dedicava pela metade, não chorava pela metade, não via filme só até a metade.
Ela não partia o pão ao meio. Ela não tomava meia xícara. Ela não bebia meia dose.
Ela não queria metade de um par, meia dupla ou meio conjunto.
Metade para ela nunca servia.
Nunca serviria.
Ela não dormia em metade da cama.
Ela não abria metade da porta.
Ela não tomava meias medidas.
Ela não escrevia meio parágrafo, não lia meio livro, o e-mail já incomodava de certa forma.
Ela meio que entendia as meias palavras, mas não aceitava os meios termos.
Ela não investia meia mesada e nunca aceitou meio salário.
Ela nunca deu metade do coração, e nunca aceitou menos do que um inteiro.
Meios beijos, meios abraços, meios cafunés não entravam no roteiro.
Meias porções, uma média, meio copo de cachaça, meia taça de vinho, nada disso entrava no cardápio.
Metade para ela era só uma parte, insuficiente, do inteiro.
Meio era aquele obstáculo que se encontra no caminho, e não o destino final.
Metade não se oferecia. Metade não servia.
Ela queria duas metades, dois meios, duas porções. Ela queria tudo 100%.
Ela só topava uma metade quando sabia que a outra chegaria. Logo.
Ela tinha vontades inteiras, sonhos inteiros, forças inteiras e um coração completo.
Metade não servia, metade não preenchia.
Metade só decepcionava, metade ela não aceitaria.

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