segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Uma xícara de café



Naquela manhã de domingo, o sol quente ali na porta da cozinha aquecia os pés frios pela brisa gelada de um inverno rigoroso.

Eles estavam ali, se aquecendo no sol enquanto a água fervia para um café forte. Lá fora, o ladrilho brilhava pelo sereno da noite, as folhas das plantas dos vasos mexiam devagarzinho. O momento era melancólico, mas era confortável.

Os olhos nunca se encontravam, mas as palavras eram incansáveis. Lentas, espaçadas e com um volume muito baixo, mas presentes em cada segundo.

Enquanto ele contava uma história de sua infância, ela ouvia e comentava, da forma mais interessada possível. Sorrisos iam e vinham, na maior naturalidade e preguiça matinal possível.

Os cabelos dela formavam leves cachos, bagunçados e caídos pelas costas e pelo rosto, que ele arrumava para trás de sua orelha sempre que queria olhar em seus olhos, oferecer um sorriso ou dar um beijo leve, carinhoso.

Ele passou o café e a ofereceu, que se mantinha ali, apoiando o corpo no batente da porta, se abrigando no sol e olhando para o lado de fora, para nenhum ponto específico. Apenas observava.

Os assuntos iam variando, mudando, se tornando mais importantes, menos interessantes, mais engraçados, menos extensos. Ele se sentou ali, na sua frente e ofereceu sua mão, que ela aceitou e segurou, como um elo que precisava ser estabelecido naquele instante.

Ali não tinham vizinhos, não tinham cachorros, barulho quase nenhum. Era cedo, é verdade, mas o tempo não mudaria essa realidade.

Eles falavam sem parar, mas a cena parecia de silêncio, quase de vazio.

Ali, estava estabelecida a normalidade, a rotina, o simples, o básico, o esperado. Impressionantemente aquilo era bem vindo, era confortante, era bem recebido.

Depois do café, um pequeno abraço, que ficou apertado, que ficou mais longo.

Depois do abraço, um olhar, um pequeno sorriso, um pequeno beijo, que ficou intenso, que ficou longo.

Ali, naquele intervalo de 23 minutos o simples foi vivido, sem qualquer pretensão de tornar-se especial, único, incrível.

O sol marcou o momento, a rotina não.

Depois daquele instante, outro foi vivido, mais simples, mais rotineiro, mais sem sal. Mas cheio de açúcar.

Não precisava ser extraordinário, precisava ser confortante, certo. Um cenário nada imaginário, algo real, palpável, convencional.

A simplicidade de pés apenas com meias, roupas largas e desajeitadas, cabelos soltos amanhecidos, bocejos grandes, preguiças incontroláveis, o coador de café feito de papel.

Assim, simples assim.

2 comentários:

Mari Campos - Pelo Mundo disse...

Fofura define.

Anônimo disse...

Muito bom Marianna... tão bem escrito que é impossível não "ver" a cena detalhadamente...