Aquilo não fazia sentido. Sentido algum. Mas era sentido, dentro do coração, na ponta dos pés, nos pulmões.
Durante muito tempo o amor tomou conta daquele coração. Ela se apaixonou, negou, tentou mudar alguma coisa e nada aconteceu. Ela, simplesmente, sentiu.
Ela quis deixar passar, ela temia que aquele sentimento a dominasse, ela pensou que um dia, simplesmente deixaria de sentir.
A cada dia, a confusão tomava conta de todo aquele pensamento racional e concreto. Ela sabia que tinha que esquecer, enxergava toda a toxicidade do que seu coração pedia, mas ao mesmo tempo em que sonhava em se libertar, sonhava com momentos, com reviravoltas, com sentimentos não correspondidos sendo, enfim, correspondidos.
Ela se permitiu sentir, mesmo que aquilo fosse a única coisa que lhe era permitido, de fato. Deixou o coração bater um pouco mais forte, deixou o sonho acontecer, deixou o olhar criar um brilho diferente. No fundo, ela sabia que tudo aquilo deixaria de existir. Um dia, um momento, um insight.
Encantada, deixava-se levar, deixava-se sorrir, deixava-se querer. Não existia culpa, não existia cobrança. Não existia, sequer, esperança. Existia uma verdade acompanhada de outra. A paixão que dominou e o improvável.
Naquele coração, inesperadamente, alguém achou um buraco na cerca. Na cerca de arame farpado que o protegia. O buraco não foi grande, mas foi suficiente, significativo, sufocante.
O tempo passou e o sentimento, como tudo na vida, também ia passar. E assim ele se fez: não compartilhado perdeu as forças, perdeu os sentidos e foi, calmamente, deixando de ser, de se manifestar, de se exibir, de mostrar suas garras e suas características brilhantes e fantásticas. Perdeu o brilho, a pose, a potência.
Mais uma fase a ser encarada: a de passar, a de se desfazer. O encantamento vai se desmanchando, ela era capaz de sentir, a cada dia, a paixão indo embora do seu coração. Um alívio, acompanhado de um sentimento de perda. Uma sensação de que o vazio irá se instalar e causar, também, um certo incômodo.
Pela primeira vez, ela teve vontade de chorar. Aquele, assim chamado amor, estava acabando. Caminhava pelas ruas como se fosse deixando para trás, a cada passo, um pouco daquilo que viveu e sentiu. Parecia um casamento que, dia a dia, ia se definhando e era perceptível. Quando algo caminha para o fim e tudo que podemos – e devemos – fazer é esperar ter um fim, acabar de vez.
Deixar de sentir passou a ser assumir o término. Admitir que algo não teve chance, não teve jeito, não teve sucesso. Era o fim, de vez.
Seria triste. Não teria despedida, não teria explicações, pedidos de desculpas, lágrimas, arrependimentos, qualquer chance de reconciliação, nenhum segunda tentativa, nenhum olhar definitivo de adeus. Simplesmente, não existiria mais. Deixaria de ser.
Ela estava perdendo o que sentia, o que estava cultivando no peito e na alma, nos pensamentos, em cada chocolate que consumia ao cair da tarde.
Ela tinha que dizer adeus e isso doía, incomodava. Deixar de amar aquela pessoa trazia a ela o mesmo sentimento do fim de um amor correspondido.
Agora era hora de ela aceitar esse fim, admitir a perda, se despedir e seguir em frente.
Agora era hora de ela aceitar esse fim, admitir a perda, se despedir e seguir em frente.

 
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