Um dia o sol nasceu ao contrário. Nesse dia, o mar não tinha ondas, as nuvens no céu eram azuis e ele passou a acreditar.
Ele não sentiu mais dores nos joelhos, nem necessidade de lavar as mãos a cada 15 minutos. Ele soube o que cozinhar, ele soube o que fazer e de repente, soube até quem era e o que queria.
Aquele dia foi tudo diferente, tudo ao contrário. A comida foi servida fria, a coca cola foi preferida quente. Ele nem sabia porquê ou do quê, mas o dia foi pintado diferente.
Naquele dia, a piada foi sem graça, a tristeza foi feliz. A porta do armário ficou toda aberta, o espelho refletiu o que não existia. Um ângulo reto tinha uns 67 graus.
Nesse um dia, sabe se lá porquê, 2 mais 2 era igual a 5. Ou 6. O gato tinha umas 15 vidas e 100 graus era uma temperatura amena, bem agradável.
Naquele dia o arroz não quis o feijão. A batata frita era diurética e o açúcar tinha efeito de vitamina E. Ele não quis catchup, desistiu do livro de filosofia, achou melhor organizar a gaveta.
Ele não soube se era segunda-feira, não verificou a despensa, não penteou o cabelo e nem sequer verificou seus e-mails.
O dólar não caiu, a poupança não rendeu, nenhum acusado foi condenado e nenhum inocente injustiçado.
Na verdade, naquele dia nem o vento soprou muito, mas mudou de direção. E como mudou. Ele ali, em frente à janela, observando tudo, nunca havia sentido o vento indo para aqueles lados. Mas estava.
Um dia o governo mudou de estratégia, preconceito deixou de ser crime, porque seu significado foi, simplesmente, esquecido. Nesse mesmo dia gatos começaram a gostar de água fria e cachorros não queriam mais abanar os rabos.
Tudo virou ao contrário, tudo ficou de ponta cabeça. Nem por isso ele deixou de amar a mesma pessoa, buscar os mesmos sonhos e gerenciar os mesmos problemas. Mas ele sentiu, algo, bem diferente naquele dia. O dia em que tudo mudou. Especialmente ele.

Um comentário:
Speechless. =)
Postar um comentário