Quero a vida em potinhos. Coloridos. Quero olhar as prateleiras e encontrar nos frasquinhos tudo que quero, preciso, necessito, evito...
Naquele potinho roxo, resiliência. No amarelo, sorriso largo. No vermelho, amor de novela. No azul, por do sol à beira-mar. No rosa, conforto. No lilás, serenidade.
Quero o potinho com gosto de gelatina. Aquele com gosto de pudim de leite-condensado feito pela avó. E aquele mais vibrante, com gosto de batata frita do McDonald’s.
E o potinho mais difícil de abrir, o da paciência. O mais fácil de abrir, o do cheiro de verbena para os cabelos. O que estiver na prateleira mais alta, o do dinheiro para sapatos. O na prateleira mais baixa, massagem nos pés.
Quero os frascos todos virados para frente, organizados por tamanhos, em ordem alfabética. E no fim da terceira prateleira, um cinza claro, aquele para curar neuroses.
Quero todos os potinhos enfeitados, bem bonitinhos. Quero aquele mais feinho, para curar tosse e dor de garganta. Um mais charmoso, com cheiro de lavanda para os dias frescos de outono.
Tem um laranja, para novas ideias. O verde-claro, para vitalidade e o verde-escuro para tratar chulé. O azul-turquesa é o da sanidade e o violeta, para aquecer o coração.
Tem o branco, que dá sono. Um nude, para charme. O preto é para o mau-humor e o dourado é todo especial: feito para ter lindos sonhos.
Os potinhos se misturam, mas estão sempre ali, à disposição. Custam a fortuna de um sorriso de manhã e um bocejo gostoso à noite, e quem não escovar os dentes depois das refeições, perde o direito a eles.
Lá no topo, tem um que brilha, meio furta-cor. Ele é todo decorado, diferente, chama a atenção, mas no rótulo, nenhuma palavra, nenhuma frase, nada de explicação. Ninguém teve coragem de experimentar, dizem que é amargo. É temido, falta coragem. Mas ele está lá, só esperando, enquanto todos observam, desconfiados.
Quero todos os frasquinhos prontos para entrarem em minha vida, com sabor amargo, doce, ácido. Com cor leve, forte, flúor. Grandes, médios e pequenos. A vida em potinhos. Já pensou?

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