Romeu e Julieta Carioca

O Romeu da história é Dé, trabalha em um quiosque na praia de Ipanema, mora no bairro, porém não à beira-mar, mas no morro do Cantagalo, de onde vê o mar ao olhar pela janela do seu quarto ou se espreguiçar no seu 'varandão', a laje do vizinho da frente.
Julieta é Nina, olhos azuis e vestido de marca, atravessa a Vieira Souto, onde mora, para ir à praia, ler um livro e pensar no ex-namorado igualmente rico, que a tratou mal e terminou o relacionamento sem motivo aparente.

O filme de Breno Silveira (Dois Filhos de Francisco) tem favela, tráfico de drogas, violência e diferenças sociais, porém foca em uma história de amor. Nada novo, lembra bem Romeu e Julieta, A Dama e o Vagabundo, entre outros, mas emociona, toca, encanta.
Com atores experientes e algumas descobertas, o longa tem aqueles elementos simples, mas que funcionam bem, marca do cinema brasileiro: nada chama atenção em específico, nada se sobressai, difícil falar "ótimo figurino" ou "maquiagem perfeita" ou então "excelente trilha sonora" mas tudo se une, assim, fácil, por isso mesmo que funciona. Mas nada que me impeça de assistir making of, ler créditos e descobrir que o figurino é de Claudia Kopke (Casa de Areia) e trilha sonora de Berna Ceppas, com Marisa Monte, Elza Soares, Martinho da Vila, Luiz Melodia, Mart'nália, entre outros e ver detalhes de gravação interessantes.
A história, de amor, começa adolescente, mas amadurece. No início, o que se espera é a resistência de Nina (Vitória Frate) ao romance, por ele ser morador de favela, com baixa escolaridade e um salário bem pequeno, mas ela surpreende, mesmo repensando a situação no começo, decide embarcar na relação com Dé (Thiago Martins). O pai da menina resiste, mas aceita, mesmo impondo a condição, talvez compreensível, de que ela não frequente a favela. Mereceu um comentário food for thought de uma amiga "Um cara uma vez me disse que o que mais dói em morar no morro é saber que as pessoas têm medo de ir onde eu moro".
Palmas extras para Rodrigo Costa, um pequenino escolhido para interpretar Dé quando criança, tornou-se ator nesse filme e deu um show, um olhar meigo e triste, perdido, sofrido. Vale chorar junto, na cena em que seu irmão Beto (Rocco Pitanga) é preso. Ele continuou chorando depois do "corta!" e teve que ser guiado para fora do personagem pela preparadora de elenco.
O filme é enredado pelos clichês, mas é bem contado, do início ao fim, por isso é bom.
Críticas? Dentro do que fazemos de cinema, é assim fácil de compreender, de seguir, de se emocionar, mas como sempre, podia ser melhor. Os diálogos não são fortes, é verdade, e o filme não tem grandes efeitos, grandes pegadas, mas tem atuações muito boas. Não é um 'grande filme' nem um 'filme grande', é uma história boa, me prendeu do início ao fim, mesmo com muito sono em uma madrugada de sábado para domingo.
Palmas também para Thiago Martins, que não foi selecionado de primeira para o papel de Dé, por ser um 'cara bonito e conhecido' mas insistiu, fez quatro testes e então convenceu. Com uma maquiagem caprichada ficou feinho, simplezinho. Por quê? Segundo o diretor, Dé tinha que ser aquele cara por quem não é fácil se apaixonar, não é óbvio, se não, perderia o sentido. Mais palmas.
'Era uma Vez' foi lançado em 2008, portanto, só em DVD mesmo, porque nos cinemas, só conseguimos ver mesmo os lançamentos nacionais. E olhe lá!
E já que é em DVD, assista ao making of (depoimentos bacanas da equipe técnica) e ao final alternativo, pelo qual me empolguei muito, mas ao terminar de assistir pensei "quero a terceira opção", porque o final talvez seja óbvio, ou fraco, ou esperado, ou exagerado. Ambos finais. Mas eu gostei muito e recomendo. Pronto.


E bom filme !