domingo, 6 de setembro de 2009

Especial Claquete - cinema do argumento à estreia (parte IV)

CINEMA, CHUVA, CAFÉ E CALOR HUMANO


Seguindo a linha dos grandes contatos que fizemos, todos marcaram de formas diferentes e alguns permaneceram e realmente merecem um destaque enorme. Merecem não apenas uma postagem, mas de repente um blog todo, só dedicado a eles.
Não fosse pela simplicidade, eu até faria isso, mas acho que seria um grande incômodo para uma figura tão especial quanto Uli.

Era um sábado. Chegamos em São Paulo com mochilas nas costas, um convite para almoçar do nosso amigo Jaú e um endereço na agenda. Avenida Paulista, com chuva e nós, claro, sem nenhum guarda-chuva na bolsa, compramos 2. Atravessamos o primeiro cruzamento protegidas mas a chuva decidiu passar. Não voltou mais.



Pegamos um táxi, pois não encontrávamos a nossa rua de destino. O simpático taxista nos levou ao condomínio de 2 prédios, em uma rua que não parecia ter começo. Nem fim.
Nervosas, um frio na barriga incessante e a porta se abre. Do outro lado, aquela figura esguia, simpática, sorridente de alguém que faz cinema no Brasil, sem ao menos precisar.
Nosso segundo e - mesmo correndo o risco de ser injusta - mais querido contato se chama Ulrich Burtin, mas gosta de ser chamado de Uli.
Fotógrafo, já trabalhou com diretores de diversas partes do mundo e decidiu ficar no Brasil 20 e poucos anos atrás. Por quê? Porque gostou do clima, da nossa realidade, do nosso cinema.
A entrevista foi de depoimentos. Pouquíssimas perguntas porque ele falava de tudo. O mais bacana? Ele falava tudo do jeito como enxergava, como pensava, destilava opiniões sinceras, que polemizavam sem ao menos ter essa intenção.
Direto, objetivo, aquele sotaque delicioso de ouvir, aquele português correto e assim a entrevista foi se estendendo por horas. Mais precisamente, 3 horas e meia.
Uli fala de fotografia, de cinema nacional, de hierarquia, de publicidade, do Brasil.
No meio da entrevista Fátima chega. Igualmente simpática, a companheira de Uli também fala sobre cinema, suas opiniões, visões. Sorridente, o ajuda a preparar um café, que ainda veio acompanhado de bolachinhas e bolo de nozes (delicioso).
Tici e sua máquina tiravam diversas fotos mas ela permanecia um pouco quieta - por timidez, por encantamento e, claro, porque eu e Uli falando não deixamos espaço para mais ninguém falar mesmo!
Mas ela se encantou mais ainda quando deixei o Uli só para ela e iniciei uma conversa com Fátima. Ali, ela teve o prazer de fazer suas próprias perguntas e ficar feliz em saber que Uli também não gosta de violência sem propósito no cinema. A idéia de mostrar sem ter que motrar o fascina, assim como fascina a Tici!

O apartamento era pequeno, decorado com móveis de acabamento preto, uma tv LCD pequena, discreta, computador de última geração e a mesa, na pequena cozinha, tinha apenas 3 lugares com luz direta, o que daria a cena de um filme, como um interrogatório ou um jogo de cartas. Aconchegante pela simplicidade, pela enorme janela de vidro de ponta a ponta da sala até o dormitório, pela vista com prédios da região da Paulista e pelo calor dos moradores, eu estava quase pedindo para morar com eles, aceitando o sofá. Ao deixarmos o apartamento, eufóricas e felizes, Tici me supreende com o comentário "Quero morar com eles!"

Uli anda à pé, mora em um pequeno apartamento e vive as coisas simples da vida porque quer. Ele quer ser simples, ele quer ter menos, ele quer ser sossegado, e assim é feliz.
O fotógrafo de filmes como Meu Nome Não é Johhny, Lisbela e o Prisioneiro, Salve Geral e muitos outros acredita que a cinematografia tem que ter qualidade, e isso não é ser bonita. É ser real, verdadeira. Justamento como ele é em cada uma de suas palavras.
Bastaria a simpatia e a longa e deliciosa entrevista, mas Uli vai além. Uli nos convida para acompanhar a correção de luz do filme "Salve Geral", então recentemente filmado e nem lançado ainda. Nos telefona para saber que hora chegaremos, para passar o endereço, o telefone do local. Uli nos recebe super bem, explica, conversa. Uli passa e-mail e telefone de outros contatos. Uli é especial do jeito mais simples que possamos imaginar.

Uma enorme lição de vida a cada minuto de conversa com o grande fotógrafo Austríaco, que adotou o Brasil.
Uma grande fonte que jamais largaremos nas nossas vidas. Aquelas que nos fazem rasgar o código de ética, atear fogo e dizer, da maneira mais infantil do mundo: "Posso ser sua amiga?"

Créditos da fonte: Jaú, que nos alertou sobre o brilhantismo de Uli, mas mesmo assim nos surpreendemos!

2 comentários:

Daniela Passos disse...

A expressividade dos detalhes ...aguçou-me o paladar, pude sentir o gosto discreto de um bolo com café.
Adorei!!!

beijossss

Unknown disse...

Putz, Marianna!! Tu escreves com alma!! Muito bom!!

Beijão. Tô com saudades.

Luiz Carlos