segunda-feira, 21 de abril de 2014

Um picolé

Mari D'Amore


Não me ofereça um picolé.

Uma picolé doce, pequeno, singelo, breve.

Aquele pequeno agrado para disfarçar uma dor enorme, uma desfeita descabida. Aquele afago depois de me fazer perder o chão.

Um prêmio de consolação.

Um abraço se o que eu quero é um beijo.

Um sorriso quando o que eu quero é a felicidade.

Um elogio quando eu quero amor.

Uma noite quando eu quero uma vida.

Não me ofereça um picolé todas as vezes que não puder estar comigo. Quando subestimar minha inteligência. Quando eu disser que não me sinto bem.

Não me ofereça um picolé quando eu te oferecer minha sinceridade absoluta. Quando eu confessar que preciso de cuidado.

Não me dê um picolé em forma de conselho, quando o que eu preciso é de conforto.

Não me dê um picolé em forma de “estou com saudade” quando o que preciso é de você preenchendo o meu dia.

Não me dê um picolé em forma de desculpas, quando o que eu quero é uma nova atitude.

O picolé me adoça, me alegra, me faz sorrir. Mas por alguns minutos. Não é o bastante. Nunca será.

Não me ofereça um picolé. 

Me deixe chorar minha tristeza, sentir meu amargo, se a doçura do seu gesto for durar apenas 15 minutos.

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