sexta-feira, 26 de julho de 2013

Por um milhão de segundos a mais

Marianna D'Amore


Com olhos que refletiam o mundo e mãos que cobriam o corpo todo, ele queria mais.

Ele se despedia, mas queria dizer mais, queria ficar mais, queria aprender mais, queria compartilhar mais.

Ela chorava, mas sorria em compreensão. Ele não soltava seu corpo, nem por um segundo e dizia que iria voltar.

Ela não acreditava, sabia bem lá no fundo do coração que era um adeus definitivo, que aquela história tinha que ter um fim e era nesse ponto que ela chegava, naquela noite fria de inverno.

Havia sido um filme cult francês, cheio de magia e cor, fantasias sem fim, diálogos eternos e poesia em meio ao caos. Havia sido o contrário de um conto de fadas, ou de vampiros, havia sido uma história real, mas que parecia um roteiro, criado na mente de um pisciano, misturando água com fogo, risada com choro, dúvida com vontade.

E, como um filme, tinha um final. Não poderia seguir mais do que aquilo. Se fosse um autor, seria aquele momento em que a criatividade continua a fluir mas o editor diz que não há mais tempo pois é preciso um desfecho, ou a hora que a produtora entra na sala gritando que o dinheiro acabou e que a história também precisa acabar.

Era como uma valsa em uma noite de celebração. Em que as luzes fazem brilhar duas pessoas naquele momento mágico,  sendo o centro das atenções, com música, encantamento, sorrisos, mas que tem 3, 4 ou 5 minutos de duração, até o silêncio breve tomar conta em encerramento.

Dali em diante, não adiantava sentir saudades, frio, desejo, ansiedade ou tristeza. Dali para frente não haveria mais nada, não se construiria mais nada, não haveria mais medo de que terminasse, pois já havia chegado ao fim.

Não haveria mais discussões, filosofias, reclamações, pedidos ou exigências. Não haveria mais cobranças, presentes, surpresas ou frustrações. Não haveria mais ele, nem ela. Não haveria mais “nós”.

Ele decidiu mudar de ideia. Ela decidiu ficar com raiva, em uma tentativa de atingir o conformismo. Ou a conformidade. Ou a sensatez. Ou a paz.

O melhor que podiam fazer era tentar achar alguém que os amasse exatamente como eles eram. E eles acharam. E mesmo assim decidiram que precisaria ter um fim.

Não se tratava de bom senso, não se tratava de sentimento, não se tratava de loucura. Era uma decisão. Burra, equivocada, madura, coerente... Eles não sabiam exatamente.

Parecia uma mania de ser infeliz. Podia ser medo de um futuro incerto. Talvez fosse imaturidade pura e simples.

Eles disseram adeus mais uma vez, mas sem soltar um o corpo do outro. As mãos dele continuavam segurando os cabelos dela, as mãos delas apoiadas na cintura dele agarrando a camiseta, como numa tentativa de evitar que ele saísse dali.

Ainda sim, olhavam um para o outro dizendo que aquele era o fim.
Ninguém entendeu, ninguém aceitou. Mas eles queriam assim.

Eram beijos, carinhos, sorrisos, abraços. Eram declarações de amor, pedidos de desculpas, promessas de saudade. Mas ainda sim “adeus”.

Ficaram ali, naquela varanda a noite toda, um agarrado ao outro, repetindo diversas vezes que estavam se despedindo.

E assim seguiu o dia seguinte. Abraços, mãos dadas, beijos e diversos “adeus”. E assim foi mais uma semana e completou-se um mês. Juntos, próximos, com mãos que não soltavam um ao outro. Mas repetindo o adeus.

Decidiram assim, tinham que manter assim. Mas passaram mais um tempo precisando um do outro, reivindicando um ao outro, desejando um ao outro, gostando um do outro.

Ali continuam, querendo dizer adeus, mas incapazes de se separar. Dizem ter se mantido firmes na decisão do fim, mas separação já é outra história.


Não desgrudam, não cortam o laço. Mas mantiveram a decisão do fim, do encerramento. Só não conseguem editar a cena final, escolher a trilha perfeita, escrever a última fala. Mas prometem fazer isso em breve. Porque, simplesmente, não querem mudar de ideia.

Um comentário:

Anônimo disse...

O.O Kct!!!!!!!!!
Tão bom que assusta!!