quarta-feira, 6 de junho de 2012

Ensaio sobre a "balzaquice"


by Anna Schuleit


Final de uma sexta-feira lenta, porém ocupada. Faltam poucas horas para a liberdade temporária do final de semana.
Duas amigas conversam. Uma jornalista. A outra também. Uma com 31 anos. A outra também. 
Uma queria apenas acabar o dia e ir direto para casa. Sozinha.
A outra sonhava com um convite interessante de um homem ainda mais interessante.
Uma queria chegar em casa para um longo banho quente.
A outra pensava em um copo de cerveja, bem gelado.
Uma ia escolher um pijama macio.
A outra queria sentir o frio do couro de uma jaqueta em um abraço apertado.
Uma queria um prato de sopa quente, um capítulo de novela.
A outra, um olhar 43, um beijo de cinema.
Uma esperava um filme independente, algumas páginas de um livro clássico.
A outra sonhava com rock, blues ou jazz acompanhando um copo de cosmopolitan.
Uma queria ficar sozinha, desconectada.
A outra queria companhia, passar a noite toda entre toques, olhares, risadas e conquista.
Uma apenas esperava olhar a noite passar através da janela.
A outra queria a vida acontecendo naquele instante.
Uma não queria TV, nem internet, nem telefone, nem visitas.
A outra queria filme de woody allen, uma noite de sexo desajeitado.
Uma planejava ficar horas sozinha, com seus pensamentos.
A outra queria trocar ideias, falar e ouvir besteiras.
Uma queria uma noite de sexta feira solitária.
A outra queria nada além de companhia.
Uma queria acordar tarde, descansada, tomar um café fresco sozinha.
A outra desejava acordar ainda cansada, tomar banho acompanhada, abrir e fechar a porta para alguém, se despedindo.
Duas histórias diferentes, de duas balzaquianas, em uma sexta-feira.
Nenhuma muito possível.
Decidiram passar a noite conversando, falando dos amores mal resolvidos e assistindo um filme de Stephen Wooley.
Porque nada é igual, e tudo muda. O tempo todo.

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