O pouco que muda tudo

Aquele dia começou com um abraço. Um abraço longo o suficiente para abrigar o coração, curto o suficiente para deixar saudades. Foi aconchegante, confortante, sincero e espontâneo.

Foram alguns segundos que poderiam ter sido minutos. Até horas. E geraram um dia todo de pensamentos e divagações. E outros dias querendo reviver aquele calor, aquele carinho.

Naquele abraço, por mais apertado que tenha sido, cabia um mundo, uma vida. Nele poderiam ser colocados todos os sentimentos bons. Amizade, respeito, admiração, compreensão, afeto, carisma, doçura.

Aquele dia foi frio, teve chuva, mas o corpo ficou aquecido o dia todo por aqueles braços aconchegantes, o peito que carrega um coração que pode ser do tamanho de um punho, mas cabe um mundo se assim permitirem.

Um abraço pode dizer, significar e resultar em inúmeras coisas. Naquele dia resultou em saudade.

O dia dela seguiu sem novos abraços. Aquele foi o único, portanto o único que importou. Ela sentia que se estivesse feliz, o abraço a apoiaria. Se estivesse triste, traria alegria. Se estivesse com dor, traria alívio. Se estivesse cansada, traria suporte ou se estivesse com dor, traria cura.

A noite chegou e ela ainda sentia no peito a pressão daquilo que mudou seu dia. “Como ainda sinto um simples abraço?” ela se perguntava. Ela sequer compreendia tudo que aquele gesto significava, carregava, exalava. Mas ela sentiu toda a responsabilidade de receber aquilo que, intencionalmente ou não, mudou seu dia e os dias seguintes.

O abraço não tinha foto, mensagem, não tinha como pedir um bis ou um replay. Não tinha o botão repeat e nem o play, para acionar quando ela precisasse. Ele tinha carinho, sentimento, tinha força e suavidade, tinha cheiro de roupa limpa, textura velha e macia. Mais que tudo, tinha vontade de não acabar nunca mais, de durar horas, anos, uma vida.

Aquele abraço tinha jeito de colo, mas o aconchego de um corpo inteiro.