domingo, 15 de agosto de 2010

A imperfeição perfeita de Mary and Max

Animações. Como não adorá-las? Como não recomendá-las? Como não nos encantarmos com elas?
Mary and Max, uma animação - para adultos - em stop motion de massa de modelar ultrapassa qualquer limite que poderíamos impor para filmes de animação. Escrito, produzido e dirigido pelo australiano Adam Elliot, o longa-metragem é lindo e tocante a partir de tristezas, imperfeições, problemas, feiura... Bem diferente da cor, luz, sorrisos e beleza que encontramos em animações Pixar/Disney, tão cativantes.
Surpreendentemente baseado em uma história real, o filme fala sobre Mary, uma garotinha australiana cheia de problemas que decide, ao olhar uma lista telefônica de Nova Iorque, escrever para alguém com o objetivo de tirar algumas dúvidas e quem sabe fazer um amigo, o que nunca teve na vida. Quem recebe a carta é Max, um gordinho de 40 e tantos anos, solitário e viciado em chocolate.
Os personagens, tão complexos e com vidas e aparências imperfeitas, em tom sempre melancólico, estabelecem uma ligação interessante, a de pen pals, ou "amigos de caneta" (ou melhor, amigos de correspondência) e seguem suas vidas compartilhando dúvidas, respostas, angústias e na sucessão de assuntos apresentados, o próximo anula o anterior, pois vem à tona inesperadamente e com uma abordagem especialmente elaborada, chocante, emocionante, muitas vezes inacreditável.




A direção de arte, fantástica, retrata além dos personagens imperfeitos, uma Austrália antiga e uma Nova Iorque triste, sem cor, vazia, mesmo repleta das luzes das janelas dos prédios à noite (atenção às torres gêmeas, que ao longo da trama estão sendo erguidas, são terminadas e então, não fazem mais parte do cenário). Na big apple vive Max, uma vida em preto e branco colorida apenas por Mary e por alguns detalhe. Em vermelho. Mary está na Austrália em sépia, tudo em tons de marrom, sem vida, cor de cocô. E o vermelho também aparece, mas também em pequenos detalhes. E tem ainda outras dezenas de detalhes que fazem toda a diferença nesse drama animado. Como Mr. Ravioli e seus livros: atente aos títulos!
A trilha sonora, incrível, prende a atenção, segue movimentos, ações e enche o coração enquanto as massinhas vão enchendo os olhos e o roteiro enche a mente de surpresas. Que aliás aparecem uma atrás da outra. Em nenhum momento esse filme é previsível, esperado, óbvio ou comum. 
Mary and Max poderia facilmente ser o melhor filme de 2009, em todas as premiações (ou de 2010, pois está em cartaz hoje em São Paulo, mesmo estando prestes a ser lançado em DVD), e entrou definitivamente no meu TOP 5. Mesmo apaixonada por filmes, há muito tempo um não mexia tanto comigo. Há tempos um filme não me tocava tanto, não me convencia tanto, não me fazia sorrir, chorar e dizer que, no mundo do cinema, o fantástico ainda tem espaço e ainda é possível a superação, a surpresa, a novidade.




Meus amados do cinema nacional me perdoem, mas Mary and Max vai além, ele se baseia no feio, no problemático, no depressivo e faz tudo lindo, resolvido, feliz. Acredite.
Com um final imprevisível, ele faz chorar. Todos choram. São personagens que sofrem grandes mudanças e que dão suporte um ao outro para aceitar a vida e resolver questões que não parecem reais, mas no fundo são exemplos inesperados para situações da vida de pessoas assim, comuns. Ou seja, cheias de problemas.
No fundo, a imperfeição da história e dos personagens, com uma produção perfeita fazem desse longa um excelente filme. Não há críticas negativas. Montagem? Fotografia? Dublagem? Tudo perfeito. Aliás, falando em dublagem, tem Toni Collette (Pequena Miss Sunshine) na voz de Mary (adulta, eles tiveram o cuidado de mudar a voz da personagem!), Philip Seymour Hoffman (Capote) como Max, e ainda Eric Bana (Hulk) como Damien. A narração, envolvente e perfeita por Barry Humphries (Minha Amanda Imortal e a voz de Bruce em Procurando Nemo).
Em um texto até vago pela grandiosidade do filme, talvez tenha pecado na repetição de palavras como "incrível" e "perfeito" porém me encontro sem palavras e outros argumentos, pois o filme é, de fato, perfeito e incrível. Não dá para perder Mary Daisy Dinkle e Max Jerry Horovitz em massinhas imperfeitas e cenas inacreditáveis.


E ótimo filme !

Um comentário:

Vitor disse...

quero ver! quero ver! quero ver!