sexta-feira, 18 de junho de 2010

As descomplicações tão complicadas

Hoje é simplesmente mais uma sexta feira, comum como todas. Não fosse a minha intenção de trabalhar, trabalhar e trabalhar. Com uma responsabilidade grande nas costas a preocupação de cumprir deadline, atender aos pedidos extras da equipe e ainda por cima fazer o trabalho mais-perfeito-do-que-o-mais-perfeito-do-mundo parece que tudo fica mais difícil, muito mais complexo do que simplesmente interpretar uma informação e derramar um texto de cerca de 1.200 caracteres. Com espaços!
O ser humano me fascina e me decepciona diariamente, e hoje ele está me fascinando. Primeiro, porque o dia começou com uma notícia triste, a morte de uma pessoa que de tão fantástica me fez pensar em coisas boas durante as 5 horas em que estou acordada. Trabalhando mas pensando coisas ótimas, não é muito bom isso? José Saramago deixou esse mundo hoje, aos 87 anos. Como sábio das palavras, por mais que explicasse muitas coisas, exercia a função indiscutível de todo o escritor: pensar e fazer pensar demais sobre coisas que não têm e nunca terão explicação nenhuma. Uma boa frase do escritor? "Das habilidades que o mundo sabe, essa ainda é a que faz melhor: Dar voltas".
Então me lembrei do último texto postado, da Adriana Falcão, que falava de uma menina que tentava explicar tudo. Poético, delicioso, mas achar explicações é mais uma maneira de complicar tudo achando que está simplificando.
Já ouvi que para crianças tudo é mais simples. Si, pero no mucho. Já parou para pensar como era complicado, incompreensível, inaceitável ouvir um 'não' de um adulto e jamais, sob qualquer circunstância, entender o porquê?
Para adolescentes tudo é muito mais complicado, fato. Hoje em dia, eles não sabem nem se são meninos ou meninas, mas acredito que sabem muito bem o que não querem na vida. Ou não. Eu fui uma adolescente atípica: não me apaixonava, não achava graça nos meninos da minha idade, não me maquiava para ir à escola e não fumava maconha. E com 16 anos fui morar sozinha fora do país. Virgem, consumidora de cerveja, gostava de Pearl Jam, filmes e dançar e com um sonho antigo: escrever um livro e falar trocentos idiomas.
Não escrevi um livro (pelo menos não naquele ano), voltei falando inglês fluentemente e aprendi que a vida, acima de tudo é bem dura com quem tem que se virar sozinho.
E hoje estou aqui, ainda sim, me surpreendendo com as dificuldades da vida. E com as que a gente, deliberadamente, impõe à vida.
É assim mesmo. 
Para finalizar, José Saramago, porque ele foi, simplesmente, ótimo no que fazia.


"Sublimemos, amor. Assim as flores



No jardim não morreram se o perfume 

No cristal da essência se defende. 

Passemos nós as provas, os ardores: 

Não caldeiam instintos sem o lume 

Nem o secreto aroma que rescende."


Um comentário:

Gilmar disse...

Oi Mari, li seu comentário no blog.Obrigado pelos parabéns. E já que gostou da iniciativa, estou cooptando uma equipe para auxiliar nas traduções.Será que posso contar com você para a tradução de um texto? todos tem entre três e quatro mil caracteres. Aguardo seu retorno Mari.Bjão