Dia dos
pais. Dia de lembrar de tudo que aprendemos ou desaprendemos com eles. Dia de
renovar post já publicado, pois esse diz exatamente o que quero dizer.
Pai, te
amo. Parabéns pelo seu dia.
Estava lendo um pequeno post da
revista TPM que dizia que “todas as mães são criminosas”. Nele, depoimentos de
editores e colaboradores da revista sobre as contravenções das mães - todas que
garantiram momentos felizes, engraçados e resultou em seres humanos normais no
mundo (considerando que ninguém é realmente normal).
Fiquei emocionada. Vi ali que fui criada dentro de muitos,
diversos daquilo que pode ser considerado um crime, que garantiria aos meus
pais depoimentos e interrogatórios em uma delegacia e que, na verdade, só me
garantiram uma infância de verdade.
Quando era pequena, meu pai fumava. E muito. Ele pedia para eu ir
comprar cigarro para ele na padaria e eu ia, com 7,8,9 anos de idade. De vez em
quando até acendia o cigarro prá ele só encostando a ponta no fogo do fogão e
lembro que coloquei na boca por curiosidade quando tinha uns 6 ou 7 anos - isso
não me matou. E sim, eu ficava perto do fogão porque era a terceira filha e
minha mãe não tinha 10 olhos no corpo.
Lembro que meus pais estavam com uma vida financeira apertada e o
carro da família era uma Saveiro. Que pais em sã consciência compram uma
saveiro tendo 3 filhos e um cachorro? Pois é, eles compraram e a gente ia até
Ubatuba na caçamba - com colchões, travesseiros e, claro, capota. De lona! Ele
ia devagar e minha mãe olhando pela janela de vidro de 2 em 2 minutos. Ficamos bem.
Meu pai sempre trabalhou muito, mas tem uma veia boêmia (DNA is a
bitch, by the way) que surgia no pouco horário livre que conseguia, e
frequentemente tomava Campari no restaurante à beira da praia que pertencia ao
meu avô. Como era bonito aquele copo longo vermelho do Campari. Era só ele
bobear e eu estava lá, com a boca no copo, tomando um golinho. E ele falava que
não podia, mas eu sempre dava um jeito. E fazia isso com vinho, fazia com
whisky achando ruim, e até cerveja. Na verdade, lembro-me muito bem que falei para
o meu pai que tomei uma Budweiser e gostei e meu pai, num sábado de churrasco
no terraço do apartamento (que naquela época ainda não se chamava gourmet,
ainda era uma novidade sem nome) apareceu com uma caixa de Bud e disse
"você gosta dessa, né?" e eu tomei com ele. Tinha uns 14 ou 15 anos.
Tomei 1 ou 2 só, mas tomei, foi um momento de companheirismo simples e nada
forçado.
Uma vez meus pais tinham uma festa de aniversário de um amigo para
ir. Eu tinha uns 5 anos, meus irmãos uns 7 e 10. Naquela época baby sitter ainda era uma facilidade
americana e europeia, não era comum por aqui. Ficamos em casa sozinhos, com o
Larry, nosso boxer. Das 8pm até meia-noite, mais ou menos. Assistimos TV e
fomos dormir todos no mesmo quarto. Tudo OK.
Um dia, sem qualquer planejamento, minha mãe me contou que eu fui
feita num tapete. Nenhum trauma ficou em mim por ouvir isso.
Meus pais discutiam frequentemente. Na nossa frente se preciso
fosse.
Meu pai criticou o primeiro desenho que fiz na escola e trouxe prá
casa, algo como "é, tá um pouco confuso, mas está bom". Sinceridade
sem problema algum.
Eu dirigi pela primeira vez com 14 anos. Eu ia para Ubatuba curtir
a vida sozinha, de ônibus, com 12, 13 anos. Eu saía com meus amigos e tomava
cerveja com 14, 15 anos. Eu curtia rock e MPB desde pequena. Eu saía à noite
bem nova, sempre fui uma curiosa.
Tudo isso não me fez louca, bêbada, drogada, revoltada, neurótica,
frustrada. Nada disso me tornou um ser humano ruim ou bagunçado ou promíscuo ou
desajustado. Isso me fez quem eu sou hoje, é o que vivi, o que penso, o que sinto.
Tudo isso eu tive com pais presentes e preocupados, cuidando para
que eu estivesse saudável, com amigos, brincando e estudando, buscando aquilo
que eu tinha vontade. Nada disso me faz culpar meus pais por meus problemas
atuais. Freud que não me ouça, mas eu sou responsável pelos meus problemas,
meus pais são meus pais e ponto final.
Minha mãe é uma pessoa muito difícil. Meu pai, absolutamente
teimoso. Os dois são cabeça-dura, cometem milhões de erros diariamente, mas tem
outros milhões de acertos.
Poderia listar aqui os reais erros dos meus pais na minha
formação, mas prefiro focar no que fizeram de politicamente incorreto por serem
seres humanos e que, de forma alguma, me fez mal ou me prejudicou. Tudo isso
faz parte de uma infância e adolescência normal, que é o que eu tive. E bem
feliz, vamos combinar.
Segundo a TPM, em uma ironia deliciosa e inteligente, meus pais
são criminosos. E que eu seja também, não tem problema. Sou hoje resultado de
tudo isso e, quer saber? Sou bem feliz com o produto final.
Feliz dia dos pais !!

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