segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Hoje é dia de cinema ...

maly pluskwiak

Ela foi lá e comprou a entrada, pagou meia. Seguiu até o balcão e pediu uma pipoca. Pequena. E uma coca-cola. Gelada, mas sem gelo. Assim explicou e o atendente, simpático, entendeu.

Seguiu para a fila, entregou o bilhete, ficou com sua parte, jogou dentro da bolsa e caminhou até a poltrona que mais gostava. Ficava lá em cima, na quarta fileira de cima para baixo, na poltrona mais ou menos no meio, um pouco mais para a esquerda, de quem olha para a grande tela.

Foi se acomodando. Um lenço embolado na nuca para apoiar a cabeça, tirou os sapatos, encontrou o porta-copos para guardar sua coca-cola já querendo deixar de ser gelada e foi pegando a pipoca, que é uma mania simplesmente incontrolável. Ela nem gosta de pipoca. Em casa? Nem pensar.

Fica à vontade em meio a ninguém. O cinema vazio é, simplesmente, confortante. De onde ela está ela consegue ver 6, 7 talvez 8 pessoas sentadas. Atrás dela devem ter mais 2 ou 3. Um homem se aproxima e parece escolher uma poltrona. Dentre mais de 70 lugares vazios, ele escolhe exatamente aquele ao lado dela. ‘Eu não acredito... Vou mudar. Mudo agora?’. Não precisa, seu desconforto deve ter espantado aquele homem estranho, que deixa a sala. Ou de repente, aquele homem queria o lugar dela e se não fosse aquele, não servia. Cada louco por cinema com sua mania!

Os comerciais começam. Não têm lá muita graça. Agora é a vez dos trailers. Esses, sim, são interessantes. O primeiro de um drama, ‘Quero ver’, ela pensa. Em seguida, um filme iraniano que um belo gênio decidiu não colocar legendas. ‘Ah, esse sim eu quero ver. Não perco de jeito nenhum”, pensa ironicamente.

As luzes estão definitivamente apagadas. Se ela pudesse, apagaria aquelas que guiam os passos dos atrasados pelos degraus, mas seria crueldade demais. Ok, ok, deixem as sinalizações de emergência acesas, fazer o quê?

Qualquer estúdio de cinema sabe escolher a trilha perfeita para a vinheta de abertura, não? Sim, porque qualquer uma causa aquele impacto, aquele arrepio nos pêlos dos braços, aquela ansiedadezinha gostosa de que algo bom está prestes a começar.

Ela sente tudo isso, se ajeita mais uma vez na poltrona. Desfaz o rabo de cavalo para cabeça ficar perfeitamente acomodada no encosto. Já cruzou as pernas, as descruzou, agora elas estão apoiadas na poltrona da frente. Sem cerimônia alguma.

O filme se estende por algumas horas. Poucos minutos além das habituais 2 horas. Ela riu, chorou, sorriu, se surpreendeu, chorou de novo, fez diversos comentários a si mesma. Todos em voz alta, muito além de seus pensamentos. E essa é mais uma vantagem de estar sozinha num mar de poltronas: suas chatices não chateiam ninguém. Sim, ela fala durante o filme. Fique pelo menos 2 fileiras afastado dela e não se incomodará. Ela promete.

No meio do filme a coca-cola acabou. Paciência. A pipoca se foi lá no início mesmo. E tinha manteiga. O lenço já foi passado para o pescoço, porque o ar condicionado ficou um pouco forte demais e as pernas já foram para a poltrona do lado, numa pose mais escrachada do que deveria ser em público. Mas, novamente, ela se colocou estrategicamente longe de todos. E escolheu estrategicamente o cinema também: de rua, nada de shopping, com público bem menor que um cinemark da vida. O filme também ajudou.

O filme segue e chega a seu fim. Os olhos já estão meio avermelhados por ter derramado algumas lágrimas, ela se levanta e vai até a saída. Mas nunca antes de todo o letreiro passar pela tela. Alguns olham estranho e ela fica com vontade de falar ‘Se eu só pudesse vir ao cinema acompanhada, deveria ter nascido grudada em alguém’, mas é claro que ela não fará isso. Por quê? Porque simplesmente ela não se importa.

É mais um filme para sua vida. Histórias, trilhas, cenas, cores, luzes, feições, inícios, meios e fins que ela consegue, mesmo que na mais bizarra das situações, sentir e colocar na sua vida. Sim, muitas vezes pura fantasia, mas ela encaixa.

O dia pode ter sido bom, ruim, maravilhoso ou péssimo. Não importa. Era dia de cinema, bebê. Ela, simplesmente, ficou feliz. Qual era o filme? Também não importa. O que vale nessa hora é se encantar e se deixar levar. Ela o fez, e sempre o faz. E assim é feliz. Mesmo comendo pipoca.

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