segunda-feira, 27 de junho de 2011

Cinema francês, para encher o coração

Sabe aqueles filmes para aquecer a alma? Aqueles com efeito de cappuccino em um dia de inverno ou sorvete de coco no verão? Ou ainda aquele filme que parece um belo pudim de leite condensado feito pela sua mãe?
Filmes franceses teriam esse poder só pelo som do idioma, porém não é só isso. À parte produções excêntricas, inovadoras e enlouquecedoramente – e deliciosamente – coloridas, alguns fazem o papel do beijo na ponta do nariz, chá de erva cidreira e travesseiro fofinho.
Minhas Tardes com Margueritte tem esse efeito. A história começa com um homem com muitos quilos no corpo, muitas marcas de infância - sua mãe é um show à parte - e que carrega a dor da ignorância – mal sabe ler e usar as palavras. Depois dele, e ao seu lado, uma senhorinha pétit, delicada, amante de livros e sábia com as palavras. Os opostos se atraem? Nesse caso, sim, e por um bem comum.


A delicada Margueritte se encontra com o rude Germaine e assim a história começa doce, profunda. Sábio diretor, que conseguiu fazer desse prometido dramalhão cheio de lágrimas, duas horas de muita risada e surpresas. Uma delícia aos olhos, ouvidos e também ao pulmão, coração...
Gérard Depardieu preenche a tela com seu corpão, sua ignorância e a ansiedade pelas palavras ao folhear livros de Margueritte. A senhorinha, interpretada por Gisèle Casadesus, encontra no grandalhão uma companhia e um suporte. O diretor e também roteirista Jean Becker soube fazer um balanço perfeito entre o pólo positivo e o negativo, o drama e a comédia, a doçura e a tristeza.
Sem adiantar desfechos e nem tirar a graça desse ótimo roteiro, Margueritte divide com Germaine o carinho pelos pássaros e é ao observá-los que se conhecem e é na literatura que se encontram de verdade. De um lado Margueritte, que mesmo perdendo a visão lê para o gorducho, que do outro lado, é uma agradável companhia.
O filme parece simples, sem grandes sacadas, mas a surpresa é exatamente essa. A fotografia é bela, pura como um filme europeu. A trilha sonora é boa, direção de arte primorosa. Tecnicamente falando, um filme todo correto. Melhor cena? Quando Germaine vai ao encontro da amiga e encontra apenas um presente que ela gavia deixado para ele. Sensível e engraçado, como as melhores partes.
É aquele filme que preenche a tarde ou a noite, acompanha pipoca ou chocolate, coca-cola ou chá de qualquer sabor. É preenche o coração, na medida certa.
Vale a pena, vale o ingresso, vale as duas horas, vale a lágrima e mais ainda todas as risadas. Passe uma tarde com Margueritte, vai ser delicioso.

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