sexta-feira, 17 de junho de 2011

Caminhando

Andar não seria suficiente.

Hoje ela precisava andar um pouco mais rápido, subir ladeiras, descer escadas, virar esquinas, correr algumas quadras, tropeçar, segurar no corrimão e olhar um pouco para o lado.

Ela olhou para o céu, a lua estava como em nenhum outro dia e tudo que pensava era “saudade”.

Ela caminhava, ela pensava, ela sorria. O coração parecia pequeno, meio abandonado e os sonhos percorriam a mente lentamente, sem muita direção.

Os olhos já lacrimejavam, a boca tremia. Do bolso tirou um hidratante labial, passou calmamente durante muito, muito tempo. Estava sem muita ideia de tempo, aquilo parecia uma outra dimensão para ela, se sentia fora de sua própria mente.

Ela queria comer alguma coisa, mas sentia sede. Ela queria atravessar a rua, mas tinha que se manter naquela direção. Ela queria ficar ali, mas tinha que ir embora.

Ela estava perdida naquelas nuvens de fumaça da própria cabeça, que fundia o que pensava, desejava, lembrava... Ela estava em uma calmaria completamente inquieta, algo complexo de explicar. De sentir, também, mas ela estava em paz. De certa forma.

Ao se sentar, em uma escadaria, olhou novamente para a lua. Ela não sorria para ela lá de cima, nenhum pensamento fantasioso surgiu nesse momento, mas ela estava ali, simplesmente.

Minutos se passaram, no fone de ouvido algumas músicas para acompanhar aquele momento. You’ve Got To Hide Your Love Away, My Baby Just Cares For Me. Tudo se encaixava, se movia conforme as melodias. A sintonia era irritantemente deliciosa.

Levantou-se e continuou seu caminho. Os pés não reclamavam dos sapatos, nem os ombros da bolsa. Ela parecia e era livre, e o coração ainda apertava, mas se sentiu confortável, dentro daquele peito que não sabia muita coisa, mas tinha uma capacidade enorme. E todos sabiam e entendiam para o quê.

Nas mãos, cheiro de ameixas. Na boca, gosto de canela. No olhar, o castanho em tom de verde oliva quente, algo indefinível.

Ela queria mais, sabia que merecia mais, mas naquele momento, ela só queria acabar com a saudade. Não tinha remédio, nunca tem.

Ajeitou os cabelos e continuou caminhando, dobrou algumas esquinas, fez linha reta na curva, atravessou no farol vermelho. Ela continuou seu caminho, na sua própria rotina, sem neuras ou tristezas. 

A saudade um dia passa ou pelo menos ameniza. Se matar a saudade não dá, ela se punha a caminhar, sonhar, pensar. Saudade. Era isso.

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